Candidatos recorrem às redes sociais para fazer campanha
- bs143801
- 6 de nov. de 2020
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Além da Internet, a criatividade é fundamental e faz parte da estratégia de vários candidatos à vereança
Por Bárbara Silva
Comícios, carreatas pela cidade, olho no olho, abraços, apertos de mão. Aquele contato com o eleitor, que era o fundamento da campanha de um vereador, agora precisa de um plano B por conta da pandemia da Covid-19. Há quem recorra à moda antiga, com carros de som que tocam jingles pela cidade, e há quem utilize as redes sociais para divulgar o nome e o número. Vale de tudo – desde que se respeite as normas de segurança contra a Covid-19.
“Em vez de andar pelas calçadas, o candidato agora vai ter que andar pelas redes”, comentou o cientista político Fernando Chagas. Para ele, o candidato que conseguir se comunicar da melhor forma vai ter uma possibilidade maior de conquistar o eleitor. O que não será tarefa fácil, devido ao crescimento da rejeição aos políticos. Chagas vê que existe uma rejeição ainda maior ao candidato do Legislativo, uma falta de identificação entre os políticos e a população.
“Antes da pandemia já era difícil você fazer propaganda eleitoral na rua. As pessoas não querem ouvir, não querem saber de política. Qual a maneira de superar isso? A internet”, afirma o cientista político.

A pesquisa de intenção de voto realizada pela Badra Comunicação junto com o Sistema Santa Cecília de Comunicação, publicada em 14 de agosto deste ano, mostra que no período de entrevistas (entre 3 e 7 de agosto), havia uma rejeição maciça aos candidatos de São Vicente, no litoral de São Paulo. De 1.500 entrevistados, 33,7% afirmavam que não votariam em ninguém. Os indecisos somavam 37,3%.
Já em uma segunda pesquisa, publicada em 28 de setembro, 13,2% disseram que não votariam em nenhum candidato. Mas o número de indecisos subiu – foi para 49,2%.
A indecisão é alta porque a população costuma escolher o candidato perto do dia da votação.
“Talvez, quando chegar uns 10, 15 dias antes, seja necessário o vereador ir para a rua. Mas no finalzinho, quando as pessoas devem estar mais receptivas. Mas quando eu digo ir para a rua, a abordagem será difícil. Eu acho que eles têm que firmar o que conquistaram ou não conquistaram na internet e ir para a rua com bandeiras. E se for distribuir santinho, tem que ter pessoas preparadas para conversar com o eleitor”, afirmou Chagas.
Nas redes sociais, não basta postar: o ideal é ter planejamento. Seria ideal também, que todos tivessem uma equipe para atuar nas redes, mas não é o caso. Assim, alguns candidatos com menos recursos para manter esta equipe saem prejudicados, como explica a coordenadora de campanha política Hanna Pereira: “Rede social é um bom caminho, mas não dá para ser só isso. Você deve potencializar a rede, entender o mecanismo dela, os algoritmos. Para investir em rede social, você precisa entender seu público.”
Estratégias dos candidatos
Esta é a primeira vez que Geovana Albuquerque, do Podemos, se candidata a um cargo político. Segundo ela, esse é um dos fatores que afetaram as eleições para ela – o outro, é a pandemia do novo coronavírus: “O jeito que a gente está acostumado a fazer política mudou drasticamente esse ano”, comentou. Geovana diz que desde o ano passado tem trabalhado em peso nas redes, e isso se intensificou agora na pandemia, já que o distanciamento tornou a maioria das campanhas remotas.
Diante das limitações, ela tenta encontrar uma solução para estar em contato com o eleitor, seja o que esteja seguindo a quarentena à risca, o que sai só por necessidade ou o que não segue mais o isolamento. “A pessoa que não quer ter contato presencial, fazemos a conversa por Zoom, mas nem todo mundo sabe usar, então fazemos ligação por celular. Quem aceita sair, chamamos para tomar café ou vamos na casa da pessoa, sempre analisando possibilidades e a situação de cada um na pandemia”, relatou.
Também é a primeira campanha de Jhony Sasaki, do PSB. Ele faz uso das mídias sociais para promover debates e discutir as pautas das necessidades de São Vicente, assim mantendo um contato com o eleitor.
Mas não se limita às redes: Sasaki anda pela cidade, conversa com as pessoas uma a uma sobre os problemas dos bairros, e também em grupos, mas mantendo o distanciamento. Ele comenta ainda em seus vídeos que procura fazer uma campanha limpa, ou seja, evitando o excesso no uso de papéis de “santinhos” (panfletos com o nome e número do candidato) e pedindo para que as pessoas não descartem o material nas ruas.
Junior Ferreira, do PROS, descreve sua campanha como feita “na cara e na coragem”. Em 30 de setembro, ele foi até a feira do bairro onde mora, usando máscara e com uma placa de papelão. No conteúdo, uma mensagem, seu nome e o número da candidatura – e foi sozinho, para evitar promover mais aglomerações.
Apesar da falta de recursos, Ferreira diz contar com a ajuda de amigos e pessoas que acreditam em seu trabalho para promover suas redes sociais, e assim atingir um público maior. Pelo Facebook, ele mantém o contato com os eleitores por meio de lives (vídeos ao vivo) e postagens falando de seus projetos, reivindicações da periferia e as propostas para seu mandato.
José Eduardo Filho, o “Doca”, do MDB, foi eleito pela primeira vez em 2016 para a Câmara e agora tenta a reeleição. Nas redes sociais, ele divulga o trabalho que realiza como vereador, e pretende apresentar também propostas que deve fazer caso seja reeleito. Ainda no âmbito das redes, Doca quer reunir alguns segmentos do público para bater papo e tirar dúvidas.
Porém, ele também segue um estilo tradicional: Doca acredita que, em seu caso, o carro de som é uma boa solução, pois ele irá tocar seu jingle, acompanhado do nome, número e cargo. “Ele pode andar pela cidade toda, respeitando os horários, e divulga bem o nome do candidato”, explicou.
Outro método que Doca pretende usar é a mala direta – ou seja, cartas endereçadas ao munícipe que serão entregues por membros de sua campanha. Ele diz possuir o cadastro de pessoas que o ajudaram anteriormente, ou que foram pacientes em sua clínica particular. “Antigamente se reunia as pessoas, elas escutavam as propostas do candidato, mas como médico eu sei da situação”, disse.
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